No Brasil, 1,5 milhão de pessoas usa maconha diariamente. O índice de
dependentes deste tipo de droga chega a 37%. E os homens usam três
vezes mais a maconha que as mulheres. Os dados constam do II
Levantamento Nacional de Álcool e Drogas - Uso de Maconha no Brasil,
realizado pelo Instituto Nacional de Políticas de Álcool e Outras Drogas
(INPAD) da Unifesp, em 149 municípios em todo o país, apresentados
nesta quarta-feira pelo psiquiatra Ronaldo Laranjeira, professor da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
De acordo com
Laranjeira, o consumo entre adolescentes cresceu 40%, principalmente no
sexo masculino, entre 2006 e 2012. E eles experimentam a droga cada vez
mais cedo, antes dos 18 anos. Isso pode levar a ter surtos psicóticos na
vida adulta.
- O índice de dependência também nos chamou atenção,
37%. Eu achava que ficaria em torno de 20%. Algo muito sério em termo
de saúde pública, já que faltam programas e centros de tratamentos para
usuários de droga no país - explica o psiquiatra. Segundo ele, dos 1,5
milhão de usuários diários de maconha, cerca de 500 mil são
adolescentes. No grupo de jovens, os índices de dependência alcançam
10%. - Destes 500 mil, estima-se que 50 mil podem ficar psicóticos e vão
precisar de tratamento psiquiátrico. Uma grave questão de saúde
pública. Qual o impacto desse aumento do ponto de vista da saúde mental
dos adolescentes? - diz Laranjeira.
A pesquisa aponta que 62%
revelaram ter usado a maconha pela primeira vez antes dos 18 anos. E
ainda que 7% da população adulta (8 milhões de pessoas) já provaram a
droga. E 3% (3 milhões de pessoas) admitiram o uso no último ano. -
Quando a pessoa admitia ter usado no último ano, era entregue uma
segunda parte do questionário dentro de um envelope, para abordar o uso
diário. Desta forma aumenta a confiabilidade - explica Laranjeira.
As
entrevistas foram realizadas em domicílios, com 4.607 pessoas com idade
a partir de 14 anos. Os questionários foram respondidos de maneira
sigilosa.
O índice de dependência - 37% - surpreendeu o
especialista. - Eu achava que ficaria em torno de 20%. Claro que, no
Brasil, o consumo não é algo estrondoso como nos Estados Unidos, Canadá e
alguns países europeus. Mas cada país tem que buscar a solução -
avaliou o psiquiatra. Enquanto no Brasil 3% admitem ter usado a droga no
último ano, nos EUA o percentual é de 10% e no Canadá, 14%. Na Itália,
11%.
Contra a legalização
A discussão em
torno da legalização do uso da maconha também foi abordado na pesquisa
da Unifesp. A maioria - 75% - não concorda. Já 11% concordam e 14% dizem
ainda não ter uma opinião formada.
- Quem defende a legalização não nos dá a resposta sobre como tratar os dependentes - aponta Laranjeira.
Para
ele, mais provável é que tenha havido um aumento do consumo de maconha
nos últimos anos após o que ele chamou de “ frouxidão” legislativa. No
Brasil, o porte de drogas, mesmo que para consumo próprio, é crime, mas o
usuário é punido com penas restritivas de direitos, e não da liberdade.
-
Os países com menor consumo de maconha, como Suécia e Japão, têm mais
rigor e restrições. A solução não é colocar os usuários na prisão, mas
nesses lugares há uma certa intolerância com o consumo. Que tipo de país
queremos? - questiona o psiquiatra.
Fonte: O globo
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